INIMIGO ÍNTIMO.


Em 2006, uma médica de uma cidade do interior estacionou o seu carro próximo ao local de trabalho, como fazia habitualmente. Passado algum tempo, ao retornar ao local para ir embora, percebeu que outro motorista havia raspado em seu veículo, tentou observar se havia alguém à sua espera para tratar sobre o assunto, mas logo percebeu que o imprudente motorista havia fugido. Logo, sem suspeito ou qualquer prova a respeito, restou-lhe apenas retornar para casa.
A médica praticamente já havia desistido do caso, quando, inesperadamente, ao sair de seu trabalho, percebeu um carro branco estacionado com outros naquele mesmo local, o homem do carro branco, ao ser questionado, e tendo sido pego de surpresa, confessou ter cometido aquela injustiça, e alegou ter sentido medo na hora em que provocou o estrago.
O que levou o motorista do veículo branco a voltar ao local do problema, se havia fugido dele anteriormente?
é claro que esse sujeito demonstrou "esperteza" na primeira vez, ao causar o dano e fugir para não ter de responder ao seu ato. No entanto, mostrou-se "inocente" ao retornar ao local do problema, estacionar ali mesmo e ainda colocar o automóvel em posição contrária aos outros, criando condições propícias para chamar atenção. Por ventura desejava ele se entregar conscientemente ao facilitar tanto a sua identificação?
poderia tal "inocência" estar a serviço, temporariamente, do processamento auto corretor? POSSUÍMOS DETERMINADO NÍVEL DE INTELIGÊNCIA E A USAMOS CORRETAMENTE. De repente, sem razão aparente, deixamos-la de lado, agindo irrefletidamente, justamente nos momentos em que mais precisaríamos dela. Estranho, não?
Mas cada passo dado ao longo de cada processamento do Sistema Psíquico Autorregulador é parte fundamental da nossa evolução, haja vista o desenvolvimento humano conter em seu bojo a semente da autonomia cujo desdobramento eleva o homem à maior independência, forjando-lhe o mecanismo do consequente autocontrole.
Tal como o crescimento de uma pessoa que precisa de suporte e controle desde a sua infância, até que, em determinada época, após anos de aprendizagem e compreensão, ela se vê frente à necessidade do autodomínio a fim de fazer valer a maturidade necessária.
Conforme a consciência ganha terreno, mais claro fica perceber que o autocontrole se deve à consciência que se conquista, e não a terceiros, como ocorre comumente com o controle social, tendo em vista a necessidade de contenção e punição correntes.
Escrito por Armando Correa de Siqueira Neto, psicólogo.

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